quinta-feira, 26 de maio de 2011

Impactos ambientais da produção de carne - 1

Introduçãocartilha



Se você chegasse agora ao planeta Terra, vindo de outra galáxia, provavelmente ficaria atônito com a proliferação de expressões como “catástrofe ambiental”, “aquecimento global”, “perda da biodiversidade”, “mudanças climáticas” e tantas outras que inundam os noticiários e permeiam discussões em comunidades tão díspares quanto escolas infantis, associações de bairro, comitês de gestão empresarial e órgãos governamentais e internacionais de todas as esferas.


“Ora”, você diria, “há até bem pouco tempo, as querelas ambientais restringiam-se a proteger ursos panda, evitar desperdício de água e reciclar latinhas de cerveja. De onde surgiu com – e com tanta voracidade – essa crise alardeada, tão ampla e sem precedentes?” Pois ela não surgiu, absolutamente: é resultado da repetição ao longo de décadas, de hábitos de consumo coletivos e individuais predatórios, mas abençoados pela lógica de mercado e por uma cultura de hiperconsumismo que negam, sistematicamente, sua conexão com o caos instaurado.
Entre esses hábitos perniciosos arraigados na sociedade moderna, está o consumo indiscriminado de carne (sempre que falar em carne, trata-se da carne de qualquer animal). Sim, acredite ou não, a atual manutenção, em “estoques vivos”, de 30 bilhões de aves, peixes e mamíferos de dezenas de espécies exerce uma tremenda e inédita pressão sobre todos os ecossistemas. Basta lembrar que cada um desses animais – assim como cada um dos quase sete bilhões de animais humanos – demanda sua porção de terra, água, comida e energia (preponderantemente fóssil), despeja seus dejetos sobre a terra e gera, direta e indiretamente, emissão de poluentes no solo, no ar e na água.

Não há como fechar os olhos para o fato de que cada hambúrguer, nugget, salsicha e lata de atum provoca um impacto e um respectivo custo ambiental que aproximam a aventura do homem na Terra da bancarrota ecológica.

Neste guia, procuramos enumerar, entre as atividades econômicas que envolvem criação de animais para abate e posterior alimentação humana, os principais fatores que geram degradação ambiental. A simples identificação desses fatores, por si, já oferece o entendimento da necessidade de uma mudança profunda no modo como indivíduos e sociedade encaram e se relacionam com o meio ambiente. E indica a urgência em repensar – e reinventar! – os paradigmas de consumo global, como única alternativa viável para evitar as grandes catástrofes que se anunciam com tanto vigor.

infograficoDesejamos que essas informações sejam úteis na sua escolha de como contribuir para a construção de um novo, saudável e produtivo modo de interagir com as pessoas, os animais e o planeta.

Estima-se, que no mundo, a cada segundo, uma área de floresta tropical do tamanho de um campo de futebol seja desmatada para produzir carne de boi equivalente a 257 hamburgueres.

Terra, água e ar
Você sabe quanto custa um quilo de carne? Pode ser qualquer tipo de carne. Será que sabe mesmo?
Para ter certeza, primeiro é necessário entender bem a pergunta.
O custo total de determinada coisa não é apenas o valor do dinheiro que gastamos para obtê-la. Este é apenas o “preço nominal” ou “custo econômico”.
As coisas podem ter custos econômicos, culturais, sociais, estéticos, ambientais, morais... E a produção de carne gera vários tipos de custos – infelizmente, quase todos desconhecidos da maioria das pessoas.
Além do que você paga diretamente no balcão do mercado e que corresponde ao custo econômico da carne, há outros fatores envolvidos que deveriam compor o preço final do produto. Entre eles, o custo ambiental da carne, que é um dos maiores problemas ambientais da Terra. Uma série de cálculos e estudos estabelece a relação do consumo de carne com a saúde do planeta, como exemplificamos no quadro abaixo.

No Brasil, em média, um quilo de carne bovina é responsável por:
• 10 mil metros quadrados de floresta desmatada
• Consumo de 15 mil litros de água doce limpa
• Emissão de dióxido de carbono diretamente na atmosfera
• Emissão de metano na atmosfera
• Despejo de boro, fósforo, mercúrio, bromo, chumbo, arsênico, cloro, entre outros elementos tóxicos provenientes de fertilizantes e defensivos agrícolas que se infiltram no solo e atingem os lençóis freáticos
• Descarte de efluentes como sangue, urina, gorduras, vísceras, fezes, ossos e outros que acabam chegando aos rios e oceanos, depois de contaminarem solo e aqüíferos subterrâneos
• Consumo de energia elétrica
• Consumo de combustíveis fósseis
• Despejo no meio ambiente de antibióticos, hormônios, analgésicos, bactericidas, inseticidas, fungicidas, vacinas e outros fármacos, via urina, fezes, sangue e vísceras, que inevitavelmente atingem os lençóis freáticos
• Liberação de óxido nitroso, cerca de 300 vezes mais prejudicial para a atmosfera do que o CO2
• Pesados encargos para os cofres públicos com tratamentos de saúde, decorrentes da contaminação gerada pela pecuária
• Gastos do poder público com infra-estrutura e saneamento necessário para equilibrar os danos causados pela pecuária
• Custo dos incentivos fiscais e subsídios concedidos pelos governos estaduais e federal para a atividade pecuária.


Tudo isso está presente em cada quilograma de alcatra, maminha, picanha e outros cortes, consumidos aos milhões no menu diário e nos churrascos domingueiros.
Mas nada disso é computado no balcão do açougue.

É importante observar que estes dados relativos à produção de 1kg de carne de boi não são estimativas alarmistas: são constatações alarmantes de estudos científicos e dados oficiais. A criação de suínos, caprinos, bubalinos e ovelinos (ou outros mamíferos de grande porte) gera números semelhantes. Ou seja, a produção industrial de carnes é uma das fontes mais importantes de poluição do meio ambiente: exige áreas gigantescas, consome enorme volume de recursos naturais e energéticos, onera sensivelmente os cofres públicos, além de gerar bilhões de toneladas de resíduos tóxicos sólidos, líquidos e gasosos, que contaminam solo, água, plantas, animais e pessoas.
A legislação brasileira é rigorosa em relação à poluição industrial. Porém, não há fiscalização para o setor pecuário: a aplicação das leis ambientais tornaria praticamente inviável a atividade. Se o governo brasileiro retirasse incentivos e subsídios, cobrasse impostos e obrigasse a internalizar os custos energéticos, o uso de recursos naturais e os danos ambientais, cada quilo de alcatra custaria uma pequena fortuna!

Causa e conseqüência:
Um fato emblemático que revela a inconseqüência da produção industrial de carne: em 1960, um grande tsunami atingiu a costa de Bangladesh. Apesar dos prejuízos materiais, não houve uma única perda humana. No entanto, vários milhares de pessoas morreram quando um tsunami de magnitude similar arrasou a mesma área, em 1991. Por que a diferença? Neste meio tempo, os imensos manguezais, que davam proteção natural àquela região, foram devastados para dar lugar a inúmeras fazendas industriais de carnicicultura (criação de camarões em cativeiro).
Fonte: SVB
   

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