Introdução ![]() Se você chegasse agora ao planeta Terra, vindo de outra galáxia, provavelmente ficaria atônito com a proliferação de expressões como “catástrofe ambiental”, “aquecimento global”, “perda da biodiversidade”, “mudanças climáticas” e tantas outras que inundam os noticiários e permeiam discussões em comunidades tão díspares quanto escolas infantis, associações de bairro, comitês de gestão empresarial e órgãos governamentais e internacionais de todas as esferas. “Ora”, você diria, “há até bem pouco tempo, as querelas ambientais restringiam-se a proteger ursos panda, evitar desperdício de água e reciclar latinhas de cerveja. De onde surgiu com – e com tanta voracidade – essa crise alardeada, tão ampla e sem precedentes?” Pois ela não surgiu, absolutamente: é resultado da repetição ao longo de décadas, de hábitos de consumo coletivos e individuais predatórios, mas abençoados pela lógica de mercado e por uma cultura de hiperconsumismo que negam, sistematicamente, sua conexão com o caos instaurado. Entre esses hábitos perniciosos arraigados na sociedade moderna, está o consumo indiscriminado de carne (sempre que falar em carne, trata-se da carne de qualquer animal). Sim, acredite ou não, a atual manutenção, em “estoques vivos”, de 30 bilhões de aves, peixes e mamíferos de dezenas de espécies exerce uma tremenda e inédita pressão sobre todos os ecossistemas. Basta lembrar que cada um desses animais – assim como cada um dos quase sete bilhões de animais humanos – demanda sua porção de terra, água, comida e energia (preponderantemente fóssil), despeja seus dejetos sobre a terra e gera, direta e indiretamente, emissão de poluentes no solo, no ar e na água. Não há como fechar os olhos para o fato de que cada hambúrguer, nugget, salsicha e lata de atum provoca um impacto e um respectivo custo ambiental que aproximam a aventura do homem na Terra da bancarrota ecológica. Neste guia, procuramos enumerar, entre as atividades econômicas que envolvem criação de animais para abate e posterior alimentação humana, os principais fatores que geram degradação ambiental. A simples identificação desses fatores, por si, já oferece o entendimento da necessidade de uma mudança profunda no modo como indivíduos e sociedade encaram e se relacionam com o meio ambiente. E indica a urgência em repensar – e reinventar! – os paradigmas de consumo global, como única alternativa viável para evitar as grandes catástrofes que se anunciam com tanto vigor. ![]() Estima-se, que no mundo, a cada segundo, uma área de floresta tropical do tamanho de um campo de futebol seja desmatada para produzir carne de boi equivalente a 257 hamburgueres. Terra, água e ar Você sabe quanto custa um quilo de carne? Pode ser qualquer tipo de carne. Será que sabe mesmo? Para ter certeza, primeiro é necessário entender bem a pergunta. O custo total de determinada coisa não é apenas o valor do dinheiro que gastamos para obtê-la. Este é apenas o “preço nominal” ou “custo econômico”. As coisas podem ter custos econômicos, culturais, sociais, estéticos, ambientais, morais... E a produção de carne gera vários tipos de custos – infelizmente, quase todos desconhecidos da maioria das pessoas. Além do que você paga diretamente no balcão do mercado e que corresponde ao custo econômico da carne, há outros fatores envolvidos que deveriam compor o preço final do produto. Entre eles, o custo ambiental da carne, que é um dos maiores problemas ambientais da Terra. Uma série de cálculos e estudos estabelece a relação do consumo de carne com a saúde do planeta, como exemplificamos no quadro abaixo. No Brasil, em média, um quilo de carne bovina é responsável por: • 10 mil metros quadrados de floresta desmatada • Consumo de 15 mil litros de água doce limpa • Emissão de dióxido de carbono diretamente na atmosfera • Emissão de metano na atmosfera • Despejo de boro, fósforo, mercúrio, bromo, chumbo, arsênico, cloro, entre outros elementos tóxicos provenientes de fertilizantes e defensivos agrícolas que se infiltram no solo e atingem os lençóis freáticos • Descarte de efluentes como sangue, urina, gorduras, vísceras, fezes, ossos e outros que acabam chegando aos rios e oceanos, depois de contaminarem solo e aqüíferos subterrâneos • Consumo de energia elétrica • Consumo de combustíveis fósseis • Despejo no meio ambiente de antibióticos, hormônios, analgésicos, bactericidas, inseticidas, fungicidas, vacinas e outros fármacos, via urina, fezes, sangue e vísceras, que inevitavelmente atingem os lençóis freáticos • Liberação de óxido nitroso, cerca de 300 vezes mais prejudicial para a atmosfera do que o CO2 • Pesados encargos para os cofres públicos com tratamentos de saúde, decorrentes da contaminação gerada pela pecuária • Gastos do poder público com infra-estrutura e saneamento necessário para equilibrar os danos causados pela pecuária • Custo dos incentivos fiscais e subsídios concedidos pelos governos estaduais e federal para a atividade pecuária. Tudo isso está presente em cada quilograma de alcatra, maminha, picanha e outros cortes, consumidos aos milhões no menu diário e nos churrascos domingueiros. Mas nada disso é computado no balcão do açougue. É importante observar que estes dados relativos à produção de 1kg de carne de boi não são estimativas alarmistas: são constatações alarmantes de estudos científicos e dados oficiais. A criação de suínos, caprinos, bubalinos e ovelinos (ou outros mamíferos de grande porte) gera números semelhantes. Ou seja, a produção industrial de carnes é uma das fontes mais importantes de poluição do meio ambiente: exige áreas gigantescas, consome enorme volume de recursos naturais e energéticos, onera sensivelmente os cofres públicos, além de gerar bilhões de toneladas de resíduos tóxicos sólidos, líquidos e gasosos, que contaminam solo, água, plantas, animais e pessoas. A legislação brasileira é rigorosa em relação à poluição industrial. Porém, não há fiscalização para o setor pecuário: a aplicação das leis ambientais tornaria praticamente inviável a atividade. Se o governo brasileiro retirasse incentivos e subsídios, cobrasse impostos e obrigasse a internalizar os custos energéticos, o uso de recursos naturais e os danos ambientais, cada quilo de alcatra custaria uma pequena fortuna! Causa e conseqüência: Um fato emblemático que revela a inconseqüência da produção industrial de carne: em 1960, um grande tsunami atingiu a costa de Bangladesh. Apesar dos prejuízos materiais, não houve uma única perda humana. No entanto, vários milhares de pessoas morreram quando um tsunami de magnitude similar arrasou a mesma área, em 1991. Por que a diferença? Neste meio tempo, os imensos manguezais, que davam proteção natural àquela região, foram devastados para dar lugar a inúmeras fazendas industriais de carnicicultura (criação de camarões em cativeiro). Fonte: SVB |
Por mim, pelo Mundo e para o Mundo; provocando mudanças e facilitando o lado de quem não tem tempo de buscar informação e iniciar o conhecimento.Vários assuntos interligados pelo fenômeno da existência e do pensamento, acelerados pela tecnologia bem (?) aplicada, e difundidos rapidamente.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Impactos ambientais da produção de carne - 1
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